CBME
Mindful eating, atenção plena nas sensações: uma experiência
Atualizado: 20 de mai. de 2020
Estou sentada, aguardando o garçom, ele chega e educadamente me pergunta, qual a sua escolha?
É segunda-feira, dia de semana, aprendi o que devo comer durante a semana, mas resolvi dar uma chance para a voz do meu corpo.
O que eu quero para o dia? Quem de tantas que sou, eu seria?
Vejo o cardápio com curiosidade. Tantas opções, inspirações..., tento passear por elas, pelas formas, cores, texturas até encontrar o que o meu corpo me pede. Seria um prato de lembranças, afetos? Ou algo de mais consistência? Está frio, escolhas quentinhas são tão confortáveis! O meu olfato aguçado com o perfume que vem da cozinha me deixa tendenciosa ao que me remete o cheiro. Novamente procuro a minha sabedoria interna, desafio me conectar ao que o meu corpo está querendo me dizer. Há uma briga interna entre o meu desejo e o que é certo (o que aprendi). Pronto, ele fez a sua escolha, tento não julgá-lo e nem pensar nas cobranças sociais que me foram impostas. As crenças me limitam, mas tento ir mais fundo. Desconstruir e viver algo novo. Me posicionei discretamente na cadeira, de forma confortável e fiz duas respirações profundas. Senti maior conexão e percebi atenção voltada para o momento. Mergulhei na experiência, é uma escolha, com gentileza e generosidade, pude aprender mais um pouco sobre mim.
Me volto para o garçom, pedido feito. Tomo minha água sem gás e gelada, guardo meu celular e procuro sentir o momento, isso mesmo, sentir. Para minha surpresa, minhas sensações corporais ficam mais aguçadas e próximas a mim, fiz o convite e elas aceitaram se sentar comigo, as despertei. Senti um agradecimento vindo de dentro, obrigada por nos enxergar e nos escutar, pude honrá-las com um discreto sorriso bondoso.
Não apenas o meu olfato estava atento, a minha pele sentia o clima fresco do ambiente, o som dos talheres, das conversas, risadas, o som das bebidas e dos alimentos protagonistas da festa.
O garçom se aproxima com o meu pedido em suas mãos, a felicidade vem ao meu encontro. Me permito apreciar o que vejo. Faço a prática da gratidão e valorizo a origem desse alimento, por que mãos ele passou e a troca de energia que teremos, meus olhos se encantam com o que vêem, desde a louça branca linda com detalhes dourados até o brilho e a combinação colorida da minha escolha. O olfato se expande ainda mais, detecto o perfume das ervas e da manteiga, levo o alimento até os meus lábios, sinto a textura e temperatura, o cheiro se intensifica, na boca, dou a primeira mordida, sabores diferentes ficam escancarados, afetuosos, emoções, tantas lembranças, diferentes texturas e depois mastigo, com calma e curiosidade, como se fosse uma aprendiz iniciante, sinto o aroma e o sabor se misturarem, honro a minha fome, saciedade e satisfação.
Respiro, desacelero, me permito, demoro, sem culpa e me inebrio na experiência. Que prazer! Os sentidos permaneceram comigo, me presentearam com todos os detalhes que eu os mereço sentir. Me dei conta do meu todo, da prática da atenção plena. Tão simples e tão profunda. Sensação de plenitude e leveza.
Final do banquete, meu corpo me olhou e me agradeceu, pelo respeito e pela escuta que ele recebeu. Não quero o corpo para me prender, quero parceria, passeio, liberdade. Quero degustar todos os seus movimentos de mãos dadas. Quero simplesmente SER.
Texto encantador da Dra Felícia Bighetti Sarrassini – nutricionista comportamental e praticante de mindful eating @dra.felicia.sarrassini
Diretora do CBME responsável - Driele Quinhoneiro @nutricionistadrielequinho